Ações Integradas ao Combate à Mosca Branca do Tomate no Brasil

Brasil

            A produção mundial de tomate, em 2002, ultrapassou 107 milhões de toneladas e a produtividade média ficou próxima de 27 mil quilos por hectare. Os principais países com produção para indústria possuem as maiores quantidades produzidas, com produtividade acima de 40 toneladas por hectare. Do total produzido no mundo, cerca de 26% são destinados à industrialização (tabela 1).

TABELA 1 – Área, produtividade e produção de tomate nos principais países e estimativa da quantidade mundial para indústria, 2002

Países
Área
(ha)
Produtividade
(kg/ha)
Produção
(em toneladas)
Participação do Tomate 
Indústria no País1 
(%)
Participação na 
Produção Mundial
(%)
China 974.462  26.134  25.466.211 
7,00
23,57
Estados Unidos  164.000  62.500  10.250.000 
9,80
9,49
Turquia  225.000  40.000  9.000.000 
14,40
8,33
Índia  500.000  17.000  8.500.000 
-
7,87 
Itália  130.000  53.846  7.000.000 
69,30
6,48 
Egito  180.721  35.019  6.328.720 
-
5,86 
Espanha  60.800  59.211  3.600.000 
37,50
3,33 
Brasil  61.998  57.998  3.595.730 
33,00
3,33 
Irã  110.000  27.273  3.000.000 
-
2,78
México  75.000  28.000  2.100.000 
-
1,94
Grécia  38.500  51.948  2.000.000 
53,00
1,85
Rússia  142.000  13.732  1.950.000 
-
1,80
Chile  20.000  60.000  1.200.000 
79,20
1,11
Portugal  18.000  62.889  1.132.000 
79,50
1,05
Ucrânia  105.000  10.476  1.100.000 
-
1,02
Usbequistão  28.000  35.714  1.000.000 
-
0,93
Outros Países  1.164.445  17.886  20.827.005 
19,28
Total  3.998.219  27.024  108.049.666 
25,93
100,00
Fonte: FAO² - Production YearBook, Roma, 2003 v. 56

            Foi este contexto que tornou o legume de grande importância após a metade do século XX. A importância sócio-econômica do tomate no mundo e no Brasil é similar à da batata, que é a olerícola de maior expressão no mundo. No entanto, é o crescimento do tomate industrial que tem permitido a expansão da quantidade produzida mundialmente, enquanto a taxa de crescimento do tomate para consumo in natura acompanha a da população.
            Devido ao estágio econômico do Brasil, o nível tecnológico da produção e as reservas de água e solo favoráveis têm fornecido as condições para a expansão da produção de tomate de mesa, mas principalmente para a cultura se firmar como abastecedora de derivados de tomate processado dos mercados latino-americano e da Ásia.
            Para atingir esse objetivo, são necessárias ações de política agrícola integradas, no âmbito dos maiores estados produtores, e inseridas em sua região geoeconômica, de forma que a produção seja organizada para atender o abastecimento de tomate in natura e também para uso industrial.
            A mosca branca surge como um complicador, exigindo medidas por parte da Federação no sentido de controlar essa praga que poderá dizimar a produção nacional. Assim, no contexto da produção brasileira, são necessárias ações integradas para que a execução do programa de combate a mosca dê resultados no menor tempo possível.
            Esta idéia motivou as reuniões da Câmara Setorial de Hortaliças, Cebola e Alho no Estado de São Paulo, cujas propostas de ações feitas em 2002 resultaram na Portaria da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento3, que solicita subsídios para a implantação do programa no Brasil.

Perfil da produção no Brasil

            A quantidade de tomate produzida no Brasil, no biênio 2001/02, foi de cerca de 3,34 milhões de toneladas. Apenas Goiás, São Paulo e Minas Gerais responderam por 65% do total. A produção goiana é majoritariamente destinada à indústria (cerca de 90%), enquanto Minas Gerais produz para mesa e também para indústria. Goiás e Minas Gerais produzem cerca de 75% do tomate industrial do Brasil, cujo volume é atualmente de 1,2 milhão de t/ano. Já São Paulo representou, em 2001/02, cerca de 20% do total brasileiro destinado à indústria (235 mil t/ano), enquanto a produção média anual para mesa foi de 471,5 mil toneladas, o que torna o Estado o principal produtor de tomate para consumo in natura (e o maior mercado de tomate na América do Sul). A produção paulista participa com 21% do total produzido no País, estando entre os principais estados produtores que se situam no Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil (tabela ).

TABELA 2 - Área e Produção de Tomate no Brasil,1999-2002

Estados
1999
2000
2001
2002
1999
2000
2001
2002*
Área (há)
Quantidade (em tonelada)
Goiás  10.677  10.196  10.514  12.512  759.009  712.448  721.525  951.410 
São Paulo  13.040  11.487  10.060  11.939  748.600  653.020  709.500  765.990 
Minas Gerais  12.174  9.682  10.245  9.936  655.026  532.380  626.580  631.985 
Bahia  8.045  5.145  5.526  5.298  237.622  170.653  195.275  237.723 
Pernambuco  2.282  2.028  2.446  4.387  73.358  89.227  92.241  206.630 
Rio de Janeiro  3.252  3.362  3.342  2.703  180.430  193.328  197.398  163.134 
Paraná  2.640  2.594  2.556  3.074  113.150  116.092  117.643  141.076 
Santa Catarina  2.900  2.494  2.613  2.480  134.812  115.402  125.201  128.000 
Espírito Santo  1.619  1.498  1.514  1.687  104.776  95.289  99.433  109.539 
Rio Grande do Sul  2.925  2.824  2.739  2.730  100.793  102.757  98.658  102.153 
Ceará  2.073  2.022  1.752  1.781  73.777  88.348  79.372  95.745 
Outros Estados  2.928  3.388  3.551  3.180  69.238  79.813  79.465  70.055 
Brasil  64.555  56.720  56.858  61.707  3.250.591  2.948.757  3.142.291  3.603.440 
* Baseado na estimativa do mês de dezembro/2002
Fonte: IBGE/ Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA 4

Sugestões para implantação do Programa.

            Sugere-se a criação de comissões técnicas nas esferas federal e estaduais para definir as medidas a serem adotadas nos diversos níveis. Essas comissões devem ter representantes da Secretaria de Defesa Agropecuária, da Embrapa-Hortaliças e dos Institutos de Pesquisa da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), além da extensão rural e da defesa agropecuária de cada estado. Essa organização possibilitará o melhor desenvolvimento das ações, evitando digressões.
            O programa deve abranger estados com produção maior do que as 100.000 t/ano. Os estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, por serem os maiores produtores de tomate e de hortaliças, além de possuir condições climáticas e infra-estrutura viária, devem ter integração de ações e medidas dessas comissões técnicas.
            Em razão das características geográficas, climáticas e técnicas devido às formas de cultivo, é necessário que se crie um programa de combate, identificação e controle da mosca branca e do Geminivirus.
            A presença dos pesquisadores da APTA e da Embrapa-Hortaliças na comissão de pesquisa teria por função coletar, através de amostragem, dados estatísticos nas propriedades produtoras de tomate sobre a mosca branca e, assim, identificar a espécie e detectar qual o tipo de vírus que estaria ocorrendo em que região.
            Dessa maneira, a comissão de pesquisa, através da propriedade sorteada estatisticamente, instalará armadilhas visando à captura, identificação da mosca e avaliação do nível de infestação do Geminivirus. Essa medida é que possibilitará elevar a eficácia do controle da praga nos estados.
            A partir desses dados, a comissão técnica para o combate da mosca deve ter integrantes da extensão rural, da defesa agropecuária e da saúde, para promover as medidas de combate e outras ações decorrentes da aplicação de defensivos.
            Entre as medidas a serem adotadas, destacam-se: uso do Equipamento de Proteção Industrial (EPI); elaboração de lista de defensivos permitidos e tempo de carência da droga; cadastro de produtores de mudas e instruções técnicas para o controle da sanidade; avaliação regional do programa de combate, considerando os produtores de tomate para mesa e indústria, produtores de hortaliças e outras plantas hospedeiras. É de grande importância a avaliação de resíduos no tomate de mesa e dos defensivos aplicados, assim como a análise da água para avaliar a lixiviação de resíduos.
            Nos estados do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste brasileiro, seria importante a avaliação da quantidade produzida de tomate para mesa e para indústria tal como é realizado pelo IEA/CATI no Estado de São Paulo (tabela 3).

Conclusão

            Para dar início ao programa de combate à mosca branca, é necessário que ainda neste primeiro semestre de 2003 haja reunião com a presença de representantes da Secretaria de Defesa Agropecuária, da Embrapa-Hortaliças, da APTA e das unidades de extensão rural, entre outras, para definir as comissões propostas neste artigo nos níveis federal e estaduais.
            Em São Paulo, existe a iniciativa de empresas que propõem o controle integrado, com a redução do uso de pesticidas, proteção ao meio ambiente, etc. Além disso, entomologistas dos Institutos de Pesquisa da APTA, bem como da Embrapa, poderiam detalhar o programa e elaborar diagnósticos precisos.

TABELA 3 – Área e Produção de Tomate no Estado de São Paulo, 1990-2002

Ano
Tomate Envarado (Mesa)
Tomate Rasteiro (Indústria)
Área 
(há)
Produção
(t)
Área 
(ha)
Produção
(t)
1990
6.044
281.704 
8.261
302.387
1991
8.133
363.989 
7.637
301.716
1992
7.805
427.237 
7.245
287.193
1993
9.255
501.787 
6.192
262.357
1994
11.687
604.495 
6.368
270.631
1995 
11.307
571.469 
5.560
267.685
1996
10.380
596.090 
4.474
226.670
1997
10.176
528.797 
4.221
231.074
1998
9.851
526.371 
4.851
271.465
1999
8.753
488.197 
4.292
260.401
2000
8.226
483.182 
3.941
271.884
2001
7.883
446.331 
3.179
206.694
2002
8.200
497.450 
3.730
268.540
Fonte: Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
 

 

¹A produção de tomate industrial em 2000 foi de 27,061 milhões de toneladas, equivalente a 25,20% do total, conforme World Procesing Tomato Counsil (em 10/05/2001). A produção de tomate industrial nos nove países citados participa com 83,60% da quantidade para indústria e 58% da produção geral. Para 2002, considerou-se 28 milhões de toneladas de tomate indústria.

²FAO; http://www.fao.org.br

³PORTARIA SDA Nº 4, de janeiro de 2003.

O Secretário de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no uso da atribuição que lhe confere o art. 83, inciso IV, do Regimento Interno da Secretaria, aprovado pela Portaria Ministerial nº 574, de 8 de dezembro de 1998, e o que consta do Processo nº 21000.009954/2002-28, resolve:

Art. 1º Submeter à consulta pública, pelo prazo de 30 dias, a contar da data de publicação desta Portaria, o Projeto de Instrução Normativa que disciplina o Manejo Integrado de Pragas do Tomate - Lycopersicon esculentumMill, cultivado para uso industrial e para consumo 'in natura'.

Art. 2º As respostas da consulta pública de que trata o artigo anterior, uma vez tecnicamente fundamentadas, deverão ser encaminhadas por escrito ao seguinte endereço: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Defesa Agropecuária / Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal / Coordenação de Projetos de Plantas – Esplanada do Ministérios, Bloco 'D', Anexo 'B'. 3º andar, Sala 348-B Brasília – DF, CEP: 7043-000, Fax: 226.6176 ou no endereço eletrônico luizneves@agricultura.gov.br; http://www.agricultura.gov.br

4 http://www.ibge gov.br  


  
   

Data de Publicação: 03/04/2003

Autor(es): Waldemar Pires de Camargo Filho (camargofilho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor